humberto o sousa
- Mas quando? Ainda ontem à tarde tomamos uma cerveja juntos lá no bar do Bigode.
- Foi lá mesmo que ele morreu, deram dois tiros nele, um na barriga e outro na cabeça.
Qual não foi minha surpresa quando, há uns oito anos, ao atender o toque da campainha, deparei-me com um sujeito de cabelos e barba longos grisalhos, pensei imediatamente em Papai Noel. Achei que já o conhecia de outro lugar:
- Por favor, onde posso encontrar ... Dadá!?
Ao ouvir o velho apelido não tive mais dívidas, era o Alípio. Havíamos servido o Exército, e tomamos muitos porres, juntos há mais de vinte anos.
Abraçamos-nos e a velha amizade logo recomeçou do ponto em que havia parado.
Ele contou que era Delegado de Policia e estava sendo transferido para nossa cidade e procurava uma casa localizada em um lugar tranqüilo e indicaram, que coincidência, a terceira casa além da minha e estava tentando falar com o proprietário. Chamou a esposa, que estava dentro do carro, estacionado em frente à pretendida, entramos, famílias apresentadas, afinidades descobertas.
Liguei para o proprietário da tal casa, e ali mesmo fecharam negócio, quinze dias depois mudaram de mala e cuia.
De um total de trinta e duas casas, somente sete eram ocupadas permanentemente por seus proprietários, alguns dos outros passavam o fim de semana e o restante somente vinham uma ou duas vezes por ano.
Dos sete dois eram aposentados e ficavam à parte dos outros cinco, cuidando de seus jardins e pescando nos finais de tarde, distribuindo peixes frescos para a vizinhança toda. Já Cacau, Nestor, Alípio (Dr. Delegado), Jorge e eu trabalhávamos na pequena cidade próxima e ao final do dia, sempre nos encontrávamos no último boteco da cidade, que ficava bem no fim do asfalto, o famoso Bar do Bigode, na realidade um verdadeiro copo sujo, daqueles que os homens adoram, com sua mesa de bilhar e cerveja sempre no ponto certo.
Deste companheirismo de boteco surgiu uma sólida amizade entre nossas famílias, com churrascos em quase todos os fins de semana ou a reunião para assistir algum jogo de futebol, os homens na sala, as mulheres na cozinha e as crianças só Deus sabe onde.
A coisa toda começou a desandar quando surgiu a suspeita de que o Nestor estava comendo a esposa do Cacau. Ninguém comentava nada, mas nossas reuniões passaram a ser permeadas por silêncios constrangidos.
Naquele sábado cedo estava eu tranquilamente podando a trepadeira do muro da frente quando vejo o Dr. Delegado sair da casa dele, só de sunga, garrafa térmica em uma das mãos. Entrou em minha casa, sem pedir licença, voltou com uma cadeira e dois copos, sentou-se e colocando um dos copos entre as pernas, encheu o outro com o conteúdo da garrafa, era caipirinha de vodca, e me passou.
Com o copo na mão acomodei-me no chão ao seu lado, e, antes de tomar o primeiro gole, ele disparou:
- O Nestor morreu!
- Mas quando? Ainda ontem à tarde tomamos uma cerveja juntos lá no bar do Bigode.
- Foi lá mesmo que ele morreu, deram dois tiros nele, um na barriga e outro na cabeça.
- Quem?
Na quinta feira anterior, três horas da tarde, o Nestor me liga dizendo que estava indo para a cidade (quando neste horário ele deveria estar na cidade trabalhando, será que ele não estaria visitando a mulher do Cacau?), e quebrou o amortecedor ao passar por um dos vários buracos existentes na estrada, eu não poderia ir socorrê-lo?
Claro que podia. Peguei meu carro e fui buscá-lo e deixei-o no mecânico que iria voltar com ele para ver se foi realmente o amortecedor e voltei para o serviço. Só voltei a encontrá-lo na sexta feira a noite lá no Bigode.
Tomamos uma cerveja juntos, e ele perguntou se eu tinha visto o carro dele, falei que não, e ele foi mostrar-me.
Alguém tinha, aos de socos e pontapés, feito mossas enormes nas laterais e no capô do veículo. Perguntei se ele sabia quem foi, disse que não mas um dia iria descobrir. Perguntei se iria para a casa, disse que não, tinha que ir a uma reunião na OAB da cidade e somente estaria livre lá pelas dez. Foi a ultima vez que eu o tinha visto.
O Alípio ouviu atentamente meu relato, em seu rosto não havia um pingo de amizade, somente a frieza do profissional querendo a verdade.
-Conte-me o que aconteceu, pedi.
- Bem, lá pela meia noite o Bigode me ligou. Era para ir urgente. Mataram o Nestor. Fui imediatamente. Chegando lá encontrei a vitima imóvel caída em meio à uma poça de sangue. Verifiquei os sinais vitais e não havia nenhum, constatando que estava morto. Interroguei o Sr. Bigode e ele fez o seguinte relato: a vitima, Sr. Nestor adentrou em seu estabelecimento por volta de 22:30 (vinte e duas horas e trinta minutos), pediu uma cerveja e foi prontamente atendido. A testemunha afirma que ficaram conversando até as 23:00 (vinte e três horas), quando chegou o indivíduo conhecido pela denominação de Cacau, sentou-se com a vítima e passaram a animadamente conversar sobre futebol, ambos, pelo que todos sabiam, torciam pelo mesmo time, tomando várias garrafas de cerveja. Após certo tempo o Sr. Nestor começou a falar de seu veículo, afirmando que “Quando descobrisse o corno filho da puta que havia feito aquilo” iria quebrar a cara dele. Ao ouvir isto o Sr. Cacau levantou-se foi até o seu próprio veículo e voltou portando um revolver, aparentemente calibre 22, e disparou o primeiro tiro no abdômen da vitima e gritando que “Pode me chamar de corno, eu sou mesmo, mas não admito que me chame de filho da puta” e efetuou o segundo disparo na cabeça do falecido. Pelo relato da testemunha, o suspeito pediu a conta e, após paga-la, evadiu
- Mas quando? Ainda ontem à tarde tomamos uma cerveja juntos lá no bar do Bigode.
- Foi lá mesmo que ele morreu, deram dois tiros nele, um na barriga e outro na cabeça.
Qual não foi minha surpresa quando, há uns oito anos, ao atender o toque da campainha, deparei-me com um sujeito de cabelos e barba longos grisalhos, pensei imediatamente em Papai Noel. Achei que já o conhecia de outro lugar:
- Por favor, onde posso encontrar ... Dadá!?
Ao ouvir o velho apelido não tive mais dívidas, era o Alípio. Havíamos servido o Exército, e tomamos muitos porres, juntos há mais de vinte anos.
Abraçamos-nos e a velha amizade logo recomeçou do ponto em que havia parado.
Ele contou que era Delegado de Policia e estava sendo transferido para nossa cidade e procurava uma casa localizada em um lugar tranqüilo e indicaram, que coincidência, a terceira casa além da minha e estava tentando falar com o proprietário. Chamou a esposa, que estava dentro do carro, estacionado em frente à pretendida, entramos, famílias apresentadas, afinidades descobertas.
Liguei para o proprietário da tal casa, e ali mesmo fecharam negócio, quinze dias depois mudaram de mala e cuia.
De um total de trinta e duas casas, somente sete eram ocupadas permanentemente por seus proprietários, alguns dos outros passavam o fim de semana e o restante somente vinham uma ou duas vezes por ano.
Dos sete dois eram aposentados e ficavam à parte dos outros cinco, cuidando de seus jardins e pescando nos finais de tarde, distribuindo peixes frescos para a vizinhança toda. Já Cacau, Nestor, Alípio (Dr. Delegado), Jorge e eu trabalhávamos na pequena cidade próxima e ao final do dia, sempre nos encontrávamos no último boteco da cidade, que ficava bem no fim do asfalto, o famoso Bar do Bigode, na realidade um verdadeiro copo sujo, daqueles que os homens adoram, com sua mesa de bilhar e cerveja sempre no ponto certo.
Deste companheirismo de boteco surgiu uma sólida amizade entre nossas famílias, com churrascos em quase todos os fins de semana ou a reunião para assistir algum jogo de futebol, os homens na sala, as mulheres na cozinha e as crianças só Deus sabe onde.
A coisa toda começou a desandar quando surgiu a suspeita de que o Nestor estava comendo a esposa do Cacau. Ninguém comentava nada, mas nossas reuniões passaram a ser permeadas por silêncios constrangidos.
Naquele sábado cedo estava eu tranquilamente podando a trepadeira do muro da frente quando vejo o Dr. Delegado sair da casa dele, só de sunga, garrafa térmica em uma das mãos. Entrou em minha casa, sem pedir licença, voltou com uma cadeira e dois copos, sentou-se e colocando um dos copos entre as pernas, encheu o outro com o conteúdo da garrafa, era caipirinha de vodca, e me passou.
Com o copo na mão acomodei-me no chão ao seu lado, e, antes de tomar o primeiro gole, ele disparou:
- O Nestor morreu!
- Mas quando? Ainda ontem à tarde tomamos uma cerveja juntos lá no bar do Bigode.
- Foi lá mesmo que ele morreu, deram dois tiros nele, um na barriga e outro na cabeça.
- Quem?
Na quinta feira anterior, três horas da tarde, o Nestor me liga dizendo que estava indo para a cidade (quando neste horário ele deveria estar na cidade trabalhando, será que ele não estaria visitando a mulher do Cacau?), e quebrou o amortecedor ao passar por um dos vários buracos existentes na estrada, eu não poderia ir socorrê-lo?
Claro que podia. Peguei meu carro e fui buscá-lo e deixei-o no mecânico que iria voltar com ele para ver se foi realmente o amortecedor e voltei para o serviço. Só voltei a encontrá-lo na sexta feira a noite lá no Bigode.
Tomamos uma cerveja juntos, e ele perguntou se eu tinha visto o carro dele, falei que não, e ele foi mostrar-me.
Alguém tinha, aos de socos e pontapés, feito mossas enormes nas laterais e no capô do veículo. Perguntei se ele sabia quem foi, disse que não mas um dia iria descobrir. Perguntei se iria para a casa, disse que não, tinha que ir a uma reunião na OAB da cidade e somente estaria livre lá pelas dez. Foi a ultima vez que eu o tinha visto.
O Alípio ouviu atentamente meu relato, em seu rosto não havia um pingo de amizade, somente a frieza do profissional querendo a verdade.
-Conte-me o que aconteceu, pedi.
- Bem, lá pela meia noite o Bigode me ligou. Era para ir urgente. Mataram o Nestor. Fui imediatamente. Chegando lá encontrei a vitima imóvel caída em meio à uma poça de sangue. Verifiquei os sinais vitais e não havia nenhum, constatando que estava morto. Interroguei o Sr. Bigode e ele fez o seguinte relato: a vitima, Sr. Nestor adentrou em seu estabelecimento por volta de 22:30 (vinte e duas horas e trinta minutos), pediu uma cerveja e foi prontamente atendido. A testemunha afirma que ficaram conversando até as 23:00 (vinte e três horas), quando chegou o indivíduo conhecido pela denominação de Cacau, sentou-se com a vítima e passaram a animadamente conversar sobre futebol, ambos, pelo que todos sabiam, torciam pelo mesmo time, tomando várias garrafas de cerveja. Após certo tempo o Sr. Nestor começou a falar de seu veículo, afirmando que “Quando descobrisse o corno filho da puta que havia feito aquilo” iria quebrar a cara dele. Ao ouvir isto o Sr. Cacau levantou-se foi até o seu próprio veículo e voltou portando um revolver, aparentemente calibre 22, e disparou o primeiro tiro no abdômen da vitima e gritando que “Pode me chamar de corno, eu sou mesmo, mas não admito que me chame de filho da puta” e efetuou o segundo disparo na cabeça do falecido. Pelo relato da testemunha, o suspeito pediu a conta e, após paga-la, evadiu
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