quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Argumento para filme de Kung Fú

 

humberto  o sousa

 

Outro dia estava discutindo com um amigo meu, o Nelsinho, sobre a babaquice de uma história que ele estava escrevendo, totalmente sem noção. Era sobre vampiros que começaria com esta pérola: “… e como uma gazela saltitante ele pulou sobre a sua vítima.”. Eu argumentei que um vampiro jamais se comportaria como uma gazela saltitante por mais viadinho que fosse, ele respondia que era para ser totalmente sem noção mesmo. Lembrei-me que também já havia escrito uma merda no mesmo estilo, então resolví colocá-la aqui, eu a acho divertida, espero que quem ler também goste.

 

Argumento para filme de Kung Fú


A história se passa na época do Imperador Qin.
Um de seus principais generais, Fúmanchu caiu em desgraça porque estava fumando muito ópio, e foi exilado no deserto de Gobi e lá se casou com uma princesa mongol chamada Ka Ba Soo.
O casal teve três filhos: Tii Fú, Lee Fú e o caçula, nascido na época das vacas magras, Sii Fú.
O pai adestra-os na arte da guerra tornando-os exímios espadachins.
Quando o jovem Sii Fú completa dezesete anos o pai adoece e vislumbrando a morte que se aproxima manda chamar os três filhos e lhes pede para viajarem à capital e se porem ao serviço do Imperador Qin, servirem-no com coragem e lealdade e resgatar a honra da fámilia. Dois dias após, o velho Fú morre.
Então os irmãos partem em uma jornada épica, lutando e derrotando salteadores de estrada, taberneiros ladrões e xanas sedentas.
Ao chegarem à capital notam que a fama os precedeu e são levados imediatamente ao palácio Imperial.
Em audiência com o Imperador informam-no do falecimento do pai e o seu último pedido, então este lhes propõe um teste: há na fronteira sul do império uma montanha há, em seu cume, uma caverna onde mora um dragão feroz, chamado Pu'm Long que assola as vilas da região, queima as plantações e sequestra todos os jovens abaixo de vinte anos, que nunca mais são vistos, se eles derrotarem-no serão admitidos no serviço das tropas imperiais, desde que não fumem ópio.
Partem em outra jornada épica, lutando e derrotando mais salteadores de estrada, mais taberneiros ladrões e duas vezes mais xanas sedentas.
Ao chegarem ao pé da montanha do dragão descobrem uma taverna, A Rosca Queimada, e resolvem comer algo, beber alguma coisa, descasarem e colherem informações.
O proprietário, atende a todas as necessidades dos herois, dando-lhes, inclusive a sua famosa rosca, mas aconselha que eles bebam o máximo possível para enfrentar Pu'm Long. Tii Fú desdenha do taberneiro, Lee Fú toma somente um jarro de bebida e somente Sii Fú aceita o conselho e toma meio tonel de vinho de arroz, ficando tão bêbado que os irmãos mais velhos tiveram que arrastá-lo montanha acima.
Ao chegarem no topo, avistaram, há uns trinta metros, a entrada negra e fedorenta, cheirando a peixe e a queijo gorgonzola, da gruta do dragão, então Tii Fú, por ser o mais velho, espada em riste, é o primeiro a atacar, mas não chegou a dar dez passos em direção ao buraco mal cheiroso e a espada quedou no chão, inerte, então ele dá meia volta e saí correndo a toda velocidade em direção ao sopé da montanha.
Então Lee Fú, o segundo mais velho, saca a espada, dá um grito furioso e parte para o ataque, conseguindo chegar até a entrada do fétido buraco, mas ao ter um vislumbre do dragão, sua espada amoleceu e apontou para o chão, então deu meia vota e seguiu seu irmão mais velho.
Sobrou então para o pobre Sii Fu, que de tão bêbado nem sacou a espada, iria enfrentar a fera no corpo a corpo mesmo. Depois de duas horas e meia de luta, marcada por ataques e recuos, idas e vindas, alternando ora ele por cima do dragão, ora por baixo, Pu'm Long soltou um longo suspiro e caiu desfalecido pelo cansaço e, só então, nosso heroi sacou a espada e cortou-lhe a cabeça, embrulhou em sua túnica, pegou o cavalo e galopou até a capital, entregando a cabeça ao Imperador.
Como recompensa recebeu a mão de uma das filhas do Imperador e uma província para governar.
É dai que vem o ditado: não existe dragão feio, você é que bebeu pouco.

sábado, 13 de agosto de 2011

Mal entendido

humberto o sousa

Claro que aquilo tudo era pura bobagem. Onde já se viu dizer que mulheres teriam direito a alguma coisa. Só não me levanto e vou dar uns tapas nesta dona porque sou educado. Pela aliança na mão esquerda deve ser casada, o marido desta vaca é um frouxo. Eu deveria é ir embora. Mas tudo bem fico e escuto esta conversa fiada.

Lá em casa o papo é outro. Primeiro foi a Djanira que começou a reclamar que estava insatisfeita sexualmente, eu não fazia gozar e tal, dei-lhe uma surra e coloquei ela na rua. Não sou homem de viver com vagabundas.

Depois a Vilma. Previdente, como sou, mantinha ela trancada em casa. Vá lá saber se ela era vagabunda que nem a outra? Belo dia cheguei e ela havia sumido, arrombou a janela e fugiu. Acertei, era vagabunda que nem a outra.

A última, a Socorro, parece que eu tinha finalmente acertado. Era do interior de Minas e veio para cá sozinha para trabalhar. Começamos a morar juntos e ela tinha como único objetivo me satisfazer e eu era feliz. Um dia cheguei em casa e ela estava lá no sofá segurando a mão de um rapaz. Não pensei duas vezes, tirei o revolver da cintura e matei os dois. No momento havia um carro de polícia passando, e ao ouvir tiros foram investigar, acabei preso em flagrante. Na delegacia aleguei defesa da honra. O delegado me mostrou então os documentos das “vitimas”, ele falava “vitimaas” com a boca cheia, e eles eram irmãos.

Não basta estar sendo julgado por um simples mal entendido ainda tenho que ficar ouvindo desaforos desta tal de promotora. Só não levanto e dou uns tapas nela porque sou educado...

sábado, 26 de março de 2011

O dono

humberto o sousa


Eles cinco, quando um professor separou a classe em grupos aleatórios para execução de trabalhos no primeiro dia de aula na faculdade, foram escolhidos para ser Grupo III e acabaram se tornando amigos. Eleninha, Claudia, Maria Inês, Carlos e Janjão (que era Antonio Pedro, mas tinha cara de Janjão, o que quer que isso se pareça).
A amizade deles foi ficando cada vez mais sólida por um motivo bem simples, apesar de viajarem sempre juntos para a praia, apartamento dos pais da Eleninha, ou passarem férias no sítio da família do Janjão, os rapazes nunca deram em cima das moças, a Eleninha era um tribufu, mas as outras duas eram de parar o trânsito. O restante dos colegas de classe chegaram a comentar que os dois não cantavam elas por estarem ocupados demais um com o outro, o que as três amigas reputavam à inveja.
Até a monografia de conclusão de curso, que era para ser feito em duplas e um deles ficaria sobrando, resolveram fazer individualmente e na verdade o que fizeram foram cinco monografias, sobre cinco temas diferentes, em grupo.
Depois de formados foram perdendo contato um com o outro, cada um constituindo família e investindo na carreira profissional, por falta absoluta de tempo.
Cerca de dez anos após a formatura, a Eleninha, que estava de casamento marcado, resolveu procurá-los um a um, pedindo endereço para mandar o convite. Conforme ela ia fazendo contato ia divulgando o telefone e endereço dos outros participantes do Grupo III, que voltaram a conversar e resolveram de comum acordo jantarem em uma churrascaria para comemorarem o reencontro. Poderiam levar os maridos e esposa, no caso de Carlos, Eleninha levaria o noivo e o Janjão levaria a atual namorada.
No dia e local marcado todos chegaram no horário. No início houve certa inibição, talvez por haver pessoas estranhas ao grupo, mas após as primeiras rodadas de chopes a intimidade do grupo foi retornando e até os “estranhos” sentiram que estavam entre amigos de longa data.
O problema começou quando o Carlos parou de tomar chope e passou a tomar caipirinhas como se fosse água, ficando completamente embriagado. Sua esposa começou a ficar incomodada e demonstrou irritação, nada adiantou, então resolveu partir para o bom humor, mais por vingança do que outra coisa (o ano anterior havia sido excelente para ambos e conseguiram antecipar o pagamento de seis anos do financiamento da casa própria, quitando-a. Nas festas de fim de ano ela estava tão feliz que ficou totalmente bêbada, acordando no dia seguinte com a bunda ardendo, comentou com o marido que respondeu na maior cara de pau: “Comi tua bunda. Cú de bêbado não tem dono mesmo”), e fez o fatídico comentário: “Carlinhos, meu amor, não esqueça que cú de bêbado não tem dono”, dando em seguida uma risada nervosa. A resposta de Carlos é que acabou com a festa, e também com o casamento : “Cê que pensa que não tem dono, né Janjão”.