sábado, 26 de março de 2011

O dono

humberto o sousa


Eles cinco, quando um professor separou a classe em grupos aleatórios para execução de trabalhos no primeiro dia de aula na faculdade, foram escolhidos para ser Grupo III e acabaram se tornando amigos. Eleninha, Claudia, Maria Inês, Carlos e Janjão (que era Antonio Pedro, mas tinha cara de Janjão, o que quer que isso se pareça).
A amizade deles foi ficando cada vez mais sólida por um motivo bem simples, apesar de viajarem sempre juntos para a praia, apartamento dos pais da Eleninha, ou passarem férias no sítio da família do Janjão, os rapazes nunca deram em cima das moças, a Eleninha era um tribufu, mas as outras duas eram de parar o trânsito. O restante dos colegas de classe chegaram a comentar que os dois não cantavam elas por estarem ocupados demais um com o outro, o que as três amigas reputavam à inveja.
Até a monografia de conclusão de curso, que era para ser feito em duplas e um deles ficaria sobrando, resolveram fazer individualmente e na verdade o que fizeram foram cinco monografias, sobre cinco temas diferentes, em grupo.
Depois de formados foram perdendo contato um com o outro, cada um constituindo família e investindo na carreira profissional, por falta absoluta de tempo.
Cerca de dez anos após a formatura, a Eleninha, que estava de casamento marcado, resolveu procurá-los um a um, pedindo endereço para mandar o convite. Conforme ela ia fazendo contato ia divulgando o telefone e endereço dos outros participantes do Grupo III, que voltaram a conversar e resolveram de comum acordo jantarem em uma churrascaria para comemorarem o reencontro. Poderiam levar os maridos e esposa, no caso de Carlos, Eleninha levaria o noivo e o Janjão levaria a atual namorada.
No dia e local marcado todos chegaram no horário. No início houve certa inibição, talvez por haver pessoas estranhas ao grupo, mas após as primeiras rodadas de chopes a intimidade do grupo foi retornando e até os “estranhos” sentiram que estavam entre amigos de longa data.
O problema começou quando o Carlos parou de tomar chope e passou a tomar caipirinhas como se fosse água, ficando completamente embriagado. Sua esposa começou a ficar incomodada e demonstrou irritação, nada adiantou, então resolveu partir para o bom humor, mais por vingança do que outra coisa (o ano anterior havia sido excelente para ambos e conseguiram antecipar o pagamento de seis anos do financiamento da casa própria, quitando-a. Nas festas de fim de ano ela estava tão feliz que ficou totalmente bêbada, acordando no dia seguinte com a bunda ardendo, comentou com o marido que respondeu na maior cara de pau: “Comi tua bunda. Cú de bêbado não tem dono mesmo”), e fez o fatídico comentário: “Carlinhos, meu amor, não esqueça que cú de bêbado não tem dono”, dando em seguida uma risada nervosa. A resposta de Carlos é que acabou com a festa, e também com o casamento : “Cê que pensa que não tem dono, né Janjão”.