humberto o sousa
Ela o conheceu no trabalho. Ela recepcionista, ele o patrão.
Ela somente vinte e três anos, ele quase quarenta. Ela corpo perfeito, rosto bonito, simpática e ele acima do peso, careca e com um carisma que faria qualquer pessoa se derreter diante dele.
Ela somente tinha a mãe, que morava em outra cidade e ele, sem família, possuía somente um amigo, Dr. Jarbas, fizeram faculdade juntos e eram sócios na banca de advogados.
No início, ela e o Dr. Almeida, almoçavam juntos e, com o tempo, passaram a jantar juntos, passar finais de semana juntos e finalmente casaram e ela deixou de chamá-lo de Dr. Almeida, ele passou a ser somente o Almeida.
Ela passou a levar uma vida quase que perfeita, ele a enchia de presentes, viagens e carinho. O único problema era que ela queria sexo todos os dias e ele somente de vez em quando, talvez fosse pelo excesso de trabalho. Ela era fogosa na cama, querendo de tudo um pouco e ele adepto do sexo burocrático. Conversaram e decidiram fazer amor uma vez por semana, concessão dela, e ele passaria a ser mais “criativo”.
A infelicidade dela começou dois dias antes de completarem cinco anos de casamento. Ela foi até a loja em que costumava comprar suas roupas intimas e escolheu uma lingerie bem sexy para eles comemorarem a data e a vendedora disse-lhe que seria “melhor” ela escolher outra, intrigada, será que não lhe ficaria bem? Quis saber o motivo e a vendedora relutantemente disse-lhe que o Dr. Almeida, no dia anterior, havia comprado um conjunto semelhante e pedido para embrulhar para presente. Voltou para casa feliz, será que o Almeida estaria ficando “criativo” o suficiente?
Aguardou a data do aniversário ansiosamente e finalmente no dia, nada de presente “criativo”, ela ganhou somente um anel com um imenso diamante o que a deixou decepcionada, será que ele tinha outra?
A dúvida foi crescendo em seu peito e, precisando dividir, ligou para a mãe e juntas bolaram um plano. Ligou para o Almeida contando-lhe que a mãe estava doente e ela iria viajar para cuidar dela, será que ele agüentaria ficar uma semana longe dela?
Ela fez as malas, colocou no carro e viajou, mas somente até a cidade vizinha, hospedou em um hotel, alugou um carro e voltou decidida a seguir marido.
De campana em frente de casa ficou aguardando o marido sair para o trabalho, mas o marido não saiu, pelo contrário, chegou um taxi, buzinou e a garagem foi aberta, o taxi entrou, a garagem foi fechada, dois minutos depois abriu novamente e o taxi partiu. Será que ele teve coragem de trazer a amante para transarem na cama dela?
Ela aguardou trinta minutos e silenciosamente entrou na casa. Com todo cuidado se dirigiu para o quarto do casal e encostou o ouvido na porta e ouviu os gemidos do clímax que se aproximava. Tirou o celular da bolsa e abriu a porta repentinamente. A cena que viu era certamente dantesca: o marido de quatro, peruca de cabelos longos e negros e vestindo a maldita lingerie era enrabado por Jarbas.
Os dois, ao vê-la, imobilizaram-se como se qualquer movimento feito acusasse o que faziam.
Ela, em um movimento ligeiro, atravessou o quarto e abriu a gaveta da cômoda do marido e retirou o revólver que ele ali mantinha para a proteção do casal e apontou para os dois e, com o celular na outra mão bateu várias fotos do casal e, depois, calmamente caminhou até Jarbas, encostou o revólver em sua têmpora e disparou, este desabou por sobre o marido, prendendo-o no chão. Apontando o revólver para o marido ela bateu outras fotos e enviou-as para a mãe.
Olhando para os olhos assustados do marido e dizendo: “Eu te amo tanto”, levou a arma para própria boca, encostando o cano no céu da boca, disparou.
(esta pequena estória é inspirada em um caso contado por Gil Gomes em um programa de rádio a mais de trinta anos)
Adorei o conto, amigo!
ResponderExcluirExcelente. Um enredo muito dramático que retrata uma situação real, mais comum do que se pensa.
Grande abraço
Luísa