domingo, 25 de outubro de 2009

O último convidado.

humberto o sousa

Ele ficou contente com o convite dela. E pensar que até três dias atrás, somando os sete anos que estudavam na mesma classe, ela mal lhe havia dirigido meia dúzia de palavras.
Tudo começou quando o professor de Química resolveu que a prova daquele bimestre seria feita em duplas determinadas por ele e, para felicidade dele, escolheu ela como sua parceira. Marcinha que nunca havia tirado nota maior que seis em Química, naquela prova tirou dez.
-Roberto?
“Marcinha, meu amor, pode me chamar de Beto”, ele pensa dizer, mas somente diz: -Sim?
-Sábado é meu aniversário e vai ter um bailinho lá em casa, você gostaria de ir?
“Com toda certeza, como já esperava o teu convite já comprei até o presente”. –Claro.
-Vai começar às oito da noite. Daria para você chegar um pouquinho mais cedo para me ajudar a organizar umas coisinhas?
-Tá.
Ela abre a bolsa e lhe dá um convite com o seu nome escrito.

Chega em casa feliz da vida. A mãe pergunta-lhe se viu o “passarinho verde”. E ele conta que a Marcinha o convidou para a festa de aniversário dela no Sábado e que ele iria precisar de roupa e um par de sapatos novos, afinal nunca ninguém havia convidado ele para nada e será que ela, a mãe, não poderia ajudar-lhe a comprar um presente para a Marcinha, afinal ela era a melhor amiga dele e eles estudavam juntos desde a quinta série.

Enfim chega o sábado.
São sete e meia da noite e ele já estava no portão da casa da Marcinha tocando a campainha. O pai dela é que vem atender:
-Você que é o Roberto?
-Sou.
-A Márcia está se trocando. Você sabe como são as meninas, levam horas para se trocarem.
-Sei.
-A Márcia me disse que você a ajudou na prova de Química, que você é um bom garoto e que não tem muitos amigos.
Ao ouvir o elogio ele cora envergonhado, mas, a menção de que não possuía amigos, aos poucos a vermelhidão vai se convertendo em raiva.
-Não fique com vergonha, ter poucos amigos às vezes é vantajoso. Veja meu problema, toda festa que nos damos enche de “penetras”. Para resolver o problema desta vez resolvemos distribuir convites e se eu colocar uma pessoa com muitos amigos aqui para conferi-los, esta pessoa provavelmente vai colocar para dentro todos os amigos que tiver, com convite ou sem convite, tornando-os inúteis.
-Entendo.
-Então eu gostaria de te pedir um favor.
-Pois não.
-Você poderia ficar aqui no portão recebendo os convidados?
-Posso.
-Não é por muito tempo, só foi distribuído vinte convites e cada convite dá direito a duas pessoas entrarem.
-Entendi.
O pai da Márcia faz-lhe um carinho no ombro e se afasta em direção a casa, mas volta na metade do caminho.
-Quando entrar o último convidado você poderá aproveitar a festa.
Os convidados começam a chegar e ele vai pegando os convites. Os colegas de classe ficam admirados por não saberem que ele era intimo da família da Marcinha.
Lá dentro começam os risos, a música e pedaços de conversas entreouvidas no intervalo das músicas.
Lá pelas tantas ele olha o relógio, já passava das dez.
Mais dez minutos e o pai da Márcia vem com um pratinho de salgadinhos e uma lata de refrigerante. Ele agradece a gentileza.
-Já tem quantos convites?
-Dezoito - ele responde de cor, ele contava os convites a cada convidado.
-Você vai ter que ficar aqui mais um pouquinho.
Nesse momento chega mais um convidado, só ficou faltando um.
-Roberto, te vejo lá dentro, o último convidado não deverá demorar muito – diz o pai, retornando para a festa.
A meia noite chega e os primeiros convidados já estão partindo e ele continua lá, esperando o último convite, xingando o filho da mãe até a última geração.
Marcinha vem e lhe entrega um pratinho de bolo e pergunta-lhe porque ele ainda estava ali fora.
-Esperando o último convidado – Ele diz entregando-lhe o presente que a mãe havia comprado.
-Me deixaeu conferir quem não veio.
Ele lhe entrega os convites e ela começa a ler os nomes nos envelopes, depois ela os conta.
-Roberto, tem dezenove convites aqui e só está faltando o teu.
-O meu?
-É.
Ele tira o último convite do bolso da calça e o junta aos restantes.
Ele está se sentindo um verdadeiro pateta.